Ela chegou tropeçando e ofegante. Dobrou-se e
colocou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego e lentamente levantou a
cabeça. O sol brilhava intensamente e o céu era de um profundo azul. Sorriu
satisfeita e aliviada, abriu e fechou o guarda-chuva para livrar-se das últimas
gotas e sentou um pouco em uma pedra para descansar.
Olhou ao redor: estava em uma área muito seca. O
chão era terra, pedras e poeira, não havia árvores, mas estava sol. Logo
esquentaria demais e ela teria que se mover. O guarda-chuva protegia um pouco
dos raios, mas ficar parada não adiantaria. Pegou a luneta para observar o
caminho à frente: parecia haver mais árvores, mas também havia nuvens. De novo.
Ela nem se atreveu a olhar para trás. Sabia o que havia lá e não voltaria.
Descansou um pouco e logo se colocou em pé.
Ela chegou perto de árvores e lagos e pode
suprir-se. O que tinha levado consigo no início já havia acabado, já que ela
achava que depois desse tempo ela já teria chegado em seu objetivo. O silêncio
e a falta de companhia pesavam sobre ela, mas não quis esperar anos para fazer
a jornada. Tinha medo de mudar de objetivo, ou pior, de desistir.

Ela continuou a andar e logo a chuva começou a
cair. Gotas grossas enregelavam a pele e o vento forte dificultava o andar. O
casaco não era suficiente para aquecer e não havia abrigo nem nenhuma caverna
próxima. Mas o mais estranho é que a chuva machucava, não só pela imensa
quantidade e força, ou pelo granizo que a acompanhou, mas havia um tipo
diferente de ferocidade nela, que muito lembrava a raiva humana.
Usou o guarda-chuva para bater em uma árvore oca.
Não era um abrigo perfeito, mas era o suficiente. Ela sentou na lama, tremendo
de frio dentro da árvore e tapou a frente com o guarda-chuva. Dormiu pouco e
mal, com todo o barulho, mas quando o dia despontou, mesmo estando escuro, ela levantou-se e
continuou.
A chuva havia sido somente um prelúdio: pequenos
flocos de neve espiralavam no ar e caíam, cobrindo a floresta de branco. Ela,
um pouco mais acostumada ao frio, continuou. Em pouco tempo, o mundo era todo
branco. Podia comer pinhas, mas não eram suficientes. Encontrou um lago recém-congelado
e pensou que poderiam existir peixes ali, já que o gelo ainda era fino.
Ela não podia subir no gelo ou ele quebraria e
ela afundaria, e não estava protegida o suficiente para tentar quebrar com as
mãos. Recorreu novamente ao guarda-chuva, batendo algumas vezes na superfície
do lago, que logo cedeu. E ela se manteve por mais uns dias.
Olhou a luneta, mas só viu branco e continuou a andar para frente, de qualquer jeito. O frio e a neve continuavam, fazendo-a tremer até os ossos, congelando seus cílios e rachando toda a pele. Mesmo estando mais acostumada ao frio e praticamente com membros insensíveis, ela continuava andando, sem conseguir se aquecer, tropeçando no que ela não via e invariavelmente machucando-se. Em determinado momento, ela torceu o pé em uma raiz encoberta e, mancando, usou o guarda-chuva como bengala.
Ela conseguiu deixar a neve lentamente para trás,
mas estava exausta, mesmo conseguindo um pouco de comida. Mas não achava água. Praticamente
não andava, mas se arrastava, e o local que adentrou começava a ficar quente e
seco, com o Sol sempre à vista para castigá-la. Um dia não aguentou e caiu no
chão, sem forças, e dormiu.
Acordou, não sabendo quanto tempo havia passado,
com gotas de chuva. Diferente da tempestade que enfrentou, era uma chuva suave,
apesar da quantidade, que tornou o tempo mais agradável. Havia uma brisa no ar
que não machucava, parecendo até mesmo sussurrar incentivos. Eram poucos e
quase inaudíveis, mas estavam lá. Isso a animou a continuar.
Abriu o guarda-chuva ao contrário para conseguir
juntar água para beber, pois aquela chuva lhe fazia bem, independente de onde
viesse. E ela bebeu. Demorou alguns dias, mas ela conseguiu voltar a se colocar
em pé. Chegou a outra floresta, mais agradável, e dessa vez planejou. Colheu,
guardou sementes e comida, achou um lago e encheu o cantil com água. O caminho
pareceu mais fácil depois disso, ela até conseguia aproveitar o canto dos
pássaros, a beleza das flores.
Mesmo sendo um belo lugar, não era o objetivo, e
ela precisava continuar. Pegou a luneta e viu, para grande alívio, que não
estava muito longe. Precisava atravessar mais um campo hostil, com um céu repleto
de nuvens negras e raios. Mas ela não se preocupou. Ela tinha um guarda-chuva.
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