O maldito cachorro voltou de novo com a bola na boca. Colocou-a no chão, alegre por tê-la pego, ficou balançando a cauda de um lado para o outro, arfando com a língua para fora e prestando atenção nos movimentos do velho, esperando que a bola fosse novamente jogada ou, talvez, um afago. Mas ele não iria receber.

O velho torceu a boca para baixo em claro sinal de descontentamento. Não queria o cachorro perto de si, então jogou a bola o mais longe que conseguiu. Poucos minutos depois o cão voltou, mais alegre ainda e até saltitante.

Por vezes o cão tentava demonstrar carinho para o velho: tentava chegar perto, encostar a cabeça no colo dele. O velho rejeitava todas essas tentativas, se afastando, tentando espantar o cão com os braços, ou até fingindo que iria bater nele. O velho só queria ficar sozinho, por seus próprios motivos, e continuar ranzinza. A alegria daquele cachorro e a companhia dele o atrapalhavam.

Achando estranho, o velho, mesmo contra a vontade, e mais por curiosidade, foi atrás do cão. Procurou na direção em que jogou a bola, mas não o encontrou. A bola estava por ali, no meio da grama. O velho a pegou e olhou ao redor, mas não havia nada ali. Andou lentamente de volta para onde estava, mas algo deteu sua visão: o cão agora brincava com outra criança, que ria alegremente e corria atrás do animal. O velho apertou a bola porum instante, pensando em largá-la, mas seguiu em frente com a memória na mão.