27.7.12

Crítica cinematográfica: Toy Story 3


O fim de uma era
Último filme da trilogia Toy Story dá adeus à infância

Despedidas são sempre tristes, mas significam que uma nova jornada deve começar. E é assim que se inicia Toy Story 3, mais nova animação da Pixar. Os brinquedos que conquistaram uma geração de crianças há 15 anos dão adeus aos espectadores e ao antigo dono, que agora vai para a faculdade. Apesar de conformados e ter esperança de serem relegados ao sótão, destino desejado, e temem serem despejados no lixo, como muitos antes deles.

Por um equívoco, todos os brinquedos, menos Woody, o claro favorito de Andy, são destinados ao sótão, mas vão para uma creche, a Sunnyside.  Woody, testemunha do engano, começa então a missão de trazer seus amigos de volta, mas se depara com uma difícil barreira: talvez eles não queiram voltar.

A linha de ação do filme não difere muito dos dois primeiros, contando sempre que os brinquedos de alguma forma se perdem de casa e sua jornada de volta, mas cada um com sua temática.

Em 1995 a então desconhecida empresa de animação gráfica Pixar lançou seu primeiro filme: Toy Story, considerado o primeiro longa feito completamente por computação gráfica. O filme contava a história de brinquedos que tomavam vida quando deixados sozinhos e que tinham que aprender a conviver com um novo brinquedo, presenteado ao dono no aniversário. O caubói Woody fica enciumado com a presença de Buzz Lightyear e faz de tudo para que este vá embora, e os dois acabam se perdendo, para depois tentar voltar para a casa. A sequência, Toy Story 2, foi lançada em 1999, e conta como os brinquedos resgatam Woody de um ladrão que pretende vendê-lo para um museu. 

Assim como em todos os filmes da Pixar, como Procurando Nemo, Wall-E e UP, Toy Story conta com uma primorosa e irretocável animação, que visivelmente foi pensada e repensada milhares de vezes antes de chegar a um resultado final que agradasse ao exigente público, que parece ter aceitado bem o filme, que estreou semana passada e já soma U$ 108 milhões nos Estados Unidos, em apenas três dias. É a melhor abertura da Pixar e esse número só deve crescer.

Outro fato que deve ser mencionado é o “aperitivo”, o curta de animação que é mostrado antes do filme. O curta chama “Dia e noite”, e não se preocupa tanto com a forma, mas com a qualidade e a mensagem, mostrando a diferença do dia e da noite de uma forma diferente e simplesmente bela.

Toy Story 3 se passa dez anos após o último longa, praticamente o mesmo tempo que ficou longe da telona. No começo do último longa, há a sensação de nostalgia no ar que permeia por todo o filme: a imaginação de Andy toma conta da tela e reapresenta os bonecos, mostrando todo o carinho devotado aos brinquedos. No presente, os bonecos estão em um baú, e arquitetam um plano para o dono dar-lhes atenção: roubam um objeto que ele precisa e o escondem com eles, e ficam felizes simplesmente por serem tocados.

Passado isso, começa a ação e a comédia, sempre em momentos oportunos e que quebram a tensão do filme. Sim, um filme infantil é capaz de ter tensão e períodos em que o espectador se identifica com os bonecos e teme por eles, talvez por tratar de um tema universal: a rejeição, o desejo de ser querido e a necessidade de amigos.

As cores mostram bem a diferença do passado e do presente: no passado são alegres e fortes, no presente continuam fortes, mas mais opacas, sem vida. Essa diferença é perceptível quando os brinquedos estão na creche Sunnyside e descobrem que ela não é tão alegre quanto deveria. As imagens que antes eram vistas de baixo para cima, mostrando quão grandioso o lugar parecia e quão brilhante era são rapidamente trocadas por imagens quase claustrofóbicas, focando no terror que os brinquedos passam quando descobrem que serão utilizados por crianças muito pequenas – aquelas que destroem, batem e pintam os bonecos. As imagens confusas e fechadas tornam o caos bem real para o público.

No momento que os brinquedos descobrem o plano do urso chefe da creche, que antes os recepcionara tão bem e prometera uma melhora na vida pós-rejeição, circundada por cheiro de morango. As cores ficam escuras e sombrias, o plano de câmera muda e mostra uma ameaça presente e constante, principalmente na fuga. 

A trilha sonora acompanha todas essa mudanças, passando uma música temática de amizade no começo e tornando mais sombria a ameaça presente, mas de forma sutil e quase imperceptível ao público

O arco da história não se baseia somente na volta para casa, assim como nos outros filmes, os obstáculos são contínuos e fazem com que os personagens tenham que pensar em soluções rápidas e trabalhar em conjunto, mesmo que alguns membros tenham súbita amnésia e falem outra língua.

O tema principal é a superação de obstáculos e o começo de uma nova fase, aqui exemplificado como o adeus a infância. Como todos já passaram ou vão passar por isso, é impossível não se identificar com os brinquedos, ou de se emocionar com as despedidas. Não parece que os brinquedos estão sendo deixados somente pelo antigo dono, mas também por todas as crianças que acompanharam os filmes e cresceram com eles. Mas, tanto para os brinquedos quanto para o público, o adeus pode significar um novo começo.

0 comentários:

Postar um comentário