5.4.11

Castelo em ruínas



Não sabia por que voltara lá. Era uma noite fria e com lua, com poucas estrelas visíveis. As ruínas se estendiam a seu redor, com tijolos de mentiras e interesses espalhados pelo chão, as frágeis vigas não mais suportaram o teto, que desabara com o vento, antes dócil, mas que logo se mostrou um tornado. 

E lá, no meio da sala, o que restara da vazia experiência de vida que outrora tivera: algumas fotos, alegres recordações de tempos imemoráveis. Quase todas destruídas. A única parcialmente inteira mostrava quatro rostos de trás do vidro protetor. Porém, este estava rachado sobre um dos rostos, que como tempo foi sumindo do retrato e quase não deixara vestígio.

Retirou a foto do porta-retrato, rasgando a parte afetada pelo ambiente. Dobrou a foto e guardou-a no bolso interno do paletó, próximo ao peito, relembrando que, enquanto os três rostos da foto se refugiavam do tornado, o apagado foi deliberadamente atraído até seu centro e agora lá residia.

Deixou o local sem olhar pra trás. Nem mesmo quando seu fósforo atingia o pano encharcado de combustível fez chamas brotarem, nem quando estas lambiam o que restava de sua casa e a transformavam em pó. Disse adeus ao castelo de cartas e seguiu reto pelo caminho.

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